o caixão lacrado
encerra a lembrança
de amigo noiva filho mãe
ou rosto querido qualquer
a imaginação mórbida
invade a mente
e abre a tampa
exumando pressupostos
cadáveres familiares
o caixão aberto
é uma caixa de boneco
de cera inchado da morte
exposto lembrete
do nosso futuro
algodão no nariz
pra estancar a última
hemorragia nasal
da criança
que envelheceu
ou não
prefiro fotos bilhetes
pertences perfumes
cheiro de roupas
cadernos guardados
pegadas na sala
cabelos na escova
impressões no espelho
velórios matam mais
que automóveis armas
de fogo água ou pedra
são assassinos brutais
de lembranças
que transformam imagens
de pessoas
em defuntos desfigurados
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